13.12.11

(Conto): FELIZ DAQUELE HOMEM QUE SE ESCONDE NA FLORESTA


Aquela umidade que alivia os pulmões. Os caules. O orvalho escorregando na folha. O cheiro da terra. Raízes. Insetos. Uma chuva que cai rapidamente e vai embora sem se despedir. Os olhos pretos deste homem que apenas refletem o verde da grama. O silêncio inexistente da mata. 

RUBENS MELO BATISTA foi um homem criado entre os homens. Cabra-macho. Pesquisou entre aqueles estudiosos. Tinha que ser um doutô. Tinha que falar e escrever corretamente. Mas ele via apenas concreto e poeira circulando por aí. Multidões como ele sem ter o que viver e vivendo entre pecados capitais, isso cansa. Assim cansado, Rubens vive aprendendo em outro lugar. Distante de tudo, conhecido como o Loko-do-mato como dizem os que pensam que pensam mais que ele.

Humildemente ali, sozinho, conversando com a mãe Terra quando coloca seu ouvido sobre a grande pedra ao lado do rio, na extremidade do pequeno mundo perto do frio do longo Outono. Ali, as estações não fazem tanto sentido assim. A grama fica amarela. O Sol raro. Todos estes dias têm medo do Sol. O astro poderoso agora pode fazer o que quiser.

Rubens abre os braços. Na sua direita está a floresta e na sua esquerda o mar. Ele abre os braços não em sacrifício como O Filho, mas de reverencia. Sentir o calor da tempestade solar que se aproxima e destrói tudo aquilo que era eletrônico. Os mamíferos aquáticos dali não usam laptop. A ave-rei-de-cabeça-branca não usa celular. Os lobos cinzentos não precisam de chuveiro elétrico. Tudo que é eletrônico no mundo se vai.

Como todos tinham medo, finalmente acontece. Para Rubens e outros povos da floresta é apenas um clarão, para o resto do planeta civilizado é uma grande merda. 

O homem feliz construiu sua casa em cima das árvores e espera todas as noites acordado pelo vulto de Ártemis caçando. Quem sabe trocar uma ideia. Depois desta tempestade solar, não há mais guerras, contas e sacerdotes virtuais. Ela veio rápida e acabou com todo o mundo.

Caos.

A única luz existente durante a noite é a do fogo e de pequenos seres invertebrados que piscam. A humanidade agora é oficialmente sem utilidade. Para ele é hora de redescobrir outro mundo. Azul, frio e ainda cheio de vida. Um novo mundo onde pode haver respeito. Rubens toca a escama de um grande peixe que lhe ensina a não agredir seus semelhantes. Ajudar a construir uma harmonia. O planeta voltando a ser azul invés de cinza. Ele é feliz por ter se escondido na floresta antes da tempestade. Aproveita cada gosto deste mundo, deixando o próximo para depois. Pisando novamente na grama amarela. Ainda sozinho. Mas dormindo entre os corpos dos deuses.                   

Sorte de Rubens que se isolou, perdeu sua sanidade convencional antes da tempestade solar que inflige o mundo eletrônico e tudo que há nele. 


(Gilberto Caetano)
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