Em
março de 1997, os cinco novos acusados foram levados a julgamento e condenados
a penas de 23 a 48 anos. Na Sentença, o juiz José Ernesto de Mattos Lourenço
foi contundente com a polícia:
De
graça, as vítimas não confessaram. Requintes de perversidade incompatível com o
exercício da atividade pública estão revelados de forma contundente e
perturbadora nos primeiros cinco volumes deste processo.
A
técnica não apenas foi impressionante, como também repugnante, vergonhosa,
covarde e revoltante. É preciso ser insensível, frio e cruel na mesma proporção
para não se indignar diante da selvageria.
Mudaram
os tempos e as formas de comportamento, mas a mentalidade parece ainda arraigada
aos tempos medievais.
Mas
grande parte da sentença foi dedicada à imprensa:
Seria
a imprensa também a provocadora da ação desvairada que vitimou jovens inocentes
que injustamente foram presos, sem qualquer interferência, é verdade, quanto
aos sofrimentos experimentados?
A
resposta é sim.
Arvorou-se
uma parte da imprensa em defensora da sociedade e exerceu uma pressão
insuportável e incompatível com o bom senso.
De
há muito tempo a imprensa afastou-se da função de noticiar o fato e assumiu
ares de julgadora, na ânsia desesperada de noticiar escândalos e explorar a
miséria humana, sem se dar conta dos seus limites.
Passaram
a acusar, julgar e penalizar com execração pública.
Os
holofotes das câmeras funcionam como luzes da ribalta. A vaidade descontrolada
provoca o esquecimento dos valores. A dignidade do ser humano passou a ter
importância mínima ou nenhuma. A imagem das pessoas é a matéria-prima da
diversão.
O
final da sentença apontou para a elite:
O
crime que ceifou duas vidas prematuramente de jovens filhos da classe média num
dos bairros mais finos da cidade provocou até mesmo o nascimento de um
movimento que se intitulou “Reage São Paulo”.
Essa
face hipócrita da sociedade, sem embargo da necessidade de reação contra a
inoperância do Estado diante da violência crescente e assustadora.
Essa
mesma sociedade, todavia, jamais reagiu
quando os filhos de famílias miseráveis, nos confins da periferia e
social, foram e continuam sendo assassinados.
São
Paulo Reage diante da morte de filhos ilustres, mas não se emociona diante da
morte dos filhos dos desprovidos de capacidade econômica, que não podem
frequentar casas noturnas de Moema, mas frequentam os bares distantes.
A
conclusão é dolorosa: matar filho de rico em bairro de classe média alta ou
abastada dá notícia, repercute, revolta a sociedade, que reage.
O
mesmo fato, quando atinge o marginalizado da economia, não desperta nenhuma reação.
A
sentença do juiz está cuidadosamente guardada nos autos do processo, único
lugar em que o seu conteúdo podia ser conhecido. As referências à imprensa
jamais foram publicadas ou nem sequer citadas pelos veículos de comunicação. (Veja o texto no final do livro.)
...
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