25.8.09

(Conto): PSICOSSEXO


Punheta.

A definição na vida de muitos homens.

Uma punheta bem batida, para alguns, é melhor que sexo. Para JOSUEL FERREIRA isso é uma verdade absoluta. Ele é um punheteiro de primeira. Namorando ou não. De uns anos para cá, ele está mais solitário, por opção, já que suas últimas namoradas lhe enchiam mais o saco do que lhe davam prazer. Não era culpa delas, ele preferia seu melhor companheiro, o DVD-player. E a mão. Josuel hoje está viciado e solitário. E é feliz!!

A punheta começa como um ritual, não é só colocar o pau pra fora e movimentar a pele rapidamente para que o gozo chegue logo, não, não é isso. O gozo é a consequência, o bom da punheta é o tempo que você aguenta para o prazer, aquela quase gozada que não sai. O ritual começa quando se coloca o filme no DVD-player, cheio de expectativas quando a diva que irá aparecer. O jeito gostoso em que ela irá gemer, andar ou o melhor close-up. Josuel senta no sofá, controla o volume – claro que o bom punheteiro se preocupa com os vizinhos. Relaxa. Espera que seu pinto manifeste-se primeiro com Brianna Love rebolando na TV de 32 polegadas, linda. Josuel é capaz de sentir o cheiro dela. E depois com Jú Pantera. Ele assiste a dois filmes inteiros. Três horas de masturbação. Seu pulso dói depois que goza e o corpo esfria. Uma dor gostosa. O coração volta a bater normalmente.

Seu vício aumenta a tal ponto que Josuel não trabalha mais. Acorda às 9, dorme às 2 da madrugada. Cinco punhetas diárias. Com o passar dos dias, não abre mais as janelas. E depois de meses o cheiro de porra impregna todo o apartamento. Sai apenas para comprar mais filmes piratas na barraquinha em frente ao prédio onde mora, ao lado da 24ª DP. Seu acervo já conta com 213 filmes, muitos norte-americanos, brasileiros e alguns tchecos.

Numa das manhãs, extremamente comum, no seu café da manhã, acontece algo que o deixa em estado de êxtase. Quando Danilinha Mete-Mete aparece com seu corpo moreno escultural, deusa é pouco. Ela pára de rebolar e abaixar o nano-shorts e diz olhando nos olhos de Josuel através do tubo da TV:

- Você vai bater uma punheta bem gostosa pra mim, vai?

- C-claro – Ele responder sem pensar.

- Você queria apertar minha bunda, né?

Josuel baba quando a câmera focaliza a bunda perfeita e ela rebola. Pra caralho nenhum brochar. E aí o inusitado:

A rabuda sai da TV, literalmente, e continua rebolando. Uma punheta sônica, mão subindo e descendo no pau médio em grande velocidade. Ele tenta apertar a bunda mas ela é intangível, tipo um holograma 3D, coisa de ficção científica. Mas é quase real. É real pra caralho. A porra se espalha pela sala inteira, paredes meladas e um orgasmo que nunca Josuel atingiu antes. A rabuda sorri satisfeita e volta para dentro da TV. Ele sabe que isso é loucura, a gostosa não existe fora do DVD, não daquele jeito em que ela se mostrou.

- Como você se chama? – Danilinha pergunta de dentro da TV.

- J-Jo-Josuel...

- Josuel, gostoso – diz fazendo biquinho – bate mais uma pra mim, bate?

Em vinte segundo ele goza novamente.

A cada novo DVD, uma gata sai para visitá-lo fora da TV: Sylvia Saint, Mônica Santiago, Phoenix Marie, Rachel Starr, Melissa, Jayden James, Babalú, Aurora Jolie, Alize e Sabrina Lins. De cinco punhetas diárias antes, agora nove.. De nove para doze. Seu pinto lateja mas Josuel continua firme. Firme, obsessivo e orgulhoso.

- Bate uma para mim gato? – diz Yul.

- Não! Pra mim, gostosão! – grita Karla King.

- Você sabe que eu sou sua preferia – suplica de quatro Jiji.

Todas elas suplicando e exigindo mais de Josuel, mais, mais. Claro que ele se perde, seu pinto demora cada vez mais para endurecer e dói. Arde. Queima. Sua cabeça lateja como depois de cheirar lança perfume. Muito pior até.

- Goza pra mim!

- Pra mim, Josuel!

- Eu! Eu! Eu!

- Chega! Me deixa! – ele grita levantando do sofá tremulo.

- Não! – todas elas gritam em uníssono.

Elas pedem enquanto ele dorme. Pedem enquanto ele come. Quando toma seu banho. Josuel possui um único momento de sossego. Exigem dele, gritam, esperneiam para uma nova punheta e no seu desespero, Josué pega uma faca de cozinha enferruja e cega e decepa seu pinto. Seu precioso, como diria Gollum. Auto-castração. As vozes traiçoeiras e perversas cessam.


Josuel cai no chão da sala sangrando com seu pinto morto na mão. Rasteja para desligar a TV, mas, não consegue. Elas estão lá dentro. Ainda perversas. Torturando-o mais um pouquinho:

- Seu idiota.


- Cafajeste.

- Fraco.

Ele morre quadro horas depois abraçado ao pinto querido, deitado sobre uma poça de sangue e porra.


(Gilberto Caetano)

18.8.09

(Conto): GENGIVITE


MAURÍCIO GULART está com a boca fodida, bem fodida. Literalmente. Uma infecção generalizada por toda a gengiva que teima em não sarar, vermelha e inchada e que sangra. Sangra quando come até uma banana. Um bafo de sangue nauseante sai de sua boca sempre ao respirar já afasta os colegas de trabalho. Uma vergonha tamanha, que Maurício teme em esquecer as palavras. Namorada, esposa ou uma prostituta, esquece. Maurício está solitário. Decide no auge de uma bebedeira parar de sangrar. Parar de ter uma menstruação todos os dias saindo da boca.
Ele vai ao consultório dentário, uma, duas, três vezes, mas, a cada vez que o dentista olha para dentro de sua boca fétida, briga e quase o espanca por Maurício ser...
- Como você pode ser tão relaxado, cara!
- Doutor...?
- Doutor, o cacete! Doutor, o cacete! Me escuta, seboso. Lava isso com água oxigenada, número 10, passa o bendito do fio-dental toda vez depois que comer e só volta aqui quando essa porra parar de sangrar. Olha só, nojento! Eu estou quase perdendo o meu olfato por sua causa! Esse teu cheio impregna aqui de tal forma que eu tenho que te atender por último. Ó! Ó! Só de encostar o dedo nessa sua gengiva nojenta espirrou sangue no meu óculos!
- Doutor... eu tô pagando.
- Eu devolvo o dinheiro. Faço de graça pra você não aparecer mais aqui. Agora, tchau.
Maurício sai do consultório derrotado. Uma parada na farmácia. Quando chega em casa a primeira coisa que faz é escovar os dentes, passar o fio. Seu sangue escorre de sua boca pelas mãos através no braço e pinga pelo cotovelo. Sangue bem mais vermelho que de costume. Desce quente pelo ralo até cair na boca de um VERME que mora no cano da pia, alojado lá por dois meses. Sua alimentação nutritiva com base em sangue e água. Ele alimenta-se de cada gota de sangue de Maurício, nada escapa de sua boca e tem nessas suas refeições o seu orgasmo, é o que o faz engordar cada vez mais. Maurício sangra com a escova de dentes, depois mais com o fio-dental, e quando usa a água oxigenada, sua boca espuma como o Rio Tietê. O Verme cresce e agradece. Maurício totalmente insano pensando na cura, sangra na pia mais de seis vezes ao dia em casa. E o Verme Durante está cada vez maior, ferrando com o encanamento. Quebrando tudo.
Maurício trabalha como metalúrgico explorado e sabe disso e até gosta. Ele desce do ônibus que o deixa à três quarteirões de sua casa. Mesmo longe se escuta gritos. Algumas pessoas correm desesperada. Algo totalmente incomum para este pacato bairro. Maurício acha estranho, mas logo passa, continua andando. Em sua rua ele encontra uma mãe desesperada.
- Meu Deus! Alguém... minha filha!! Aquilo levou minha filha!
Ele vê o rastro de sangue e destruição pelo asfalto. Algumas casas destruídas. Gritos ao longe vindos da próxima rua. Tiros. Sirenes. Helicóptero em vôo rasante. E um grito totalmente animalesco de dor.
Os rastros de sangue pelo chão, vem de sua casa que está com o muro destruído. Maurício entra. O rastro de sangue vem de sua porta derrubada. Dentro da casa, o banheiro e a pia estão em milhares de pedaços. O rastro, que fora da casa era de sangue, dentro, é apenas algo viscoso como o de uma lesma. Apenas o espelho pendurado na parede continua intacto.
Maurício abre a boca para ver sua imagem refletida. Cutuca a gengiva com a unha. Claro que ainda sangra.
- Merda... eu nunca vou me livrar dessa porra de infecção.
Pessoas morrendo lá fora e que se foda o mundo. Ele pensa.

(Gilberto Caetano)

11.8.09

(Conto): O PASSEIO IMPROVÁVEL


escrito por FRANCISCO GLAUTER.

Era o quinto dia de trabalho da semana. O quinto dia em que ele se moía por dentro, por ter pressa. Uma hora em atraso! Ele...o chefe da repartição! Moía-se por não poder parar no camelô e futricar as novidades pirateadas: sua ânsia pelas stars do mundo pornô! O que dava pra fazer naqueles dias de pressa contínua, habitual, era correr os olhos em soslaio e flagar uma loira numa das capas. Americana? Brasileira? Não. Tcheca. Sim. Tcheca. As tchecas são a grande sensação da indústria! Atrizes tchecas davam a ele a impressão da perfeição, o sentimento que só a idealização lhe trazia. Cultas? Sofisticadas? Ninfomaníacas! Deus! Vou a Praga. Não! Budapeste não! Praga. Quero ver Veronica Zemanova...e Monica. Sweetheart? Não. Certamente não é esse seu sobrenome de batismo. Sim, ela está morando nos Estados Unidos. Veronica Zemanova também. Entraram pro time da indústria....como Meirelles e Iñárritu. E eu? E minha busca? Quero é descobrir quem é a loira da capa pirateada. Será ela o objeto de meu desejo ao longo de tantos anos de contemplação da forma? Há trinta anos...exatos trinta anos procuro por uma virgem de boca entreaberta(*). A mesma busca incessante e doentia de Benjamim Zambraia, a personagem central do romance de Chico Buarque, igualmente obsessivo e interessado pelas coisas inexistentes. Chegou o sétimo dia. Atrasado. Na hora precisa, depois de botar o primeiro pé pra fora do 376 que me levava ao centro de Diadema, mirei a repartição ilícita, povoada de gente. Como de costume as calçadas da avenida Marginal eram um mar de gente a ir e a vir. O que tanto fazem essas pessoas?...pensei egoísta! O objeto de minha ansiedade tinha lugar numa pequena barraca, no passeio da margem oposta ao terminal de ônibus, periférico a um restaurante de nome mal escolhido. Cheguei, tomei praça, acotovelado. Uma jovenzinha indaga a respeito do “ao vivo” do Calcinha Preta. Um jovem aparentando quinze anos mal vividos queria o último Batman. Eu seguia minha intenção premeditada, quando o 376 ainda vagava pela avenida Cupecê. Foda-se! Um atraso a mais, um atraso a menos... Além do mais, sou o chefe daquela merda! Parei, acossado pelo relógio comprado há alguns dias, como vã tentativa de evitar os atrasos constantes. Avancei deseducadamente, quase empurrando uma senhora que a meu ver não deveria estar ali. Certamente haveriam afazeres de sobra na casa de uma mulher como aquela: cuidar dos netos, da provisão dos que sustentavam a casa e chegariam esfomeados tão logo a tarde caísse. Aquilo era um baixio, não lugar de uma senhora! Território de gente desocupada e obsessiva. Pra casa, minha senhora! Desculpei-me tão timidamente de minha deseducação para com ela que minha gentileza foi completamente ignorada. Ganhei meu lugar em volta da empresa. Baixei os olhos. Nada! Minha possível virgem de boca entreaberta tinha ido parar nas mãos de um qualquer, que não saberia valorizá-la como tal. Sim. Ela se foi. Eu triste de não ter jeito(**), ladeado pela senhora incauta e pela jovenzinha excitada, seguro nas mãos minha parte do espólio enquanto escuto um fado de Amália Rodrigues, vindo de minha inesgotável memória musical. O céu se tornava chumbo, “bonito pra chover” para alguns. Outros diriam: como é feio o céu desta cidade! Abandonando o inútil de minhas reflexões, ergo os olhos e pago ao pregoeiro pelo que me sobrou do desastre: o “dèbut” da Bruna Surfistinha.

Francisco Glauter

São Paulo/Outono-2009


(*)Chico Buarque

(**)Wilson Rodrigues


4.8.09

* * *


Ele se esconde entre minha unha e carne.

Está no meu estômago.

Está nas minhas bolas esperando por uma gozada.

Se eu estiver à beira de qualquer lugar.

Me empurre.

Quem sabe ele voe.

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